Ato Nobre

on sábado, 7 de junho de 2008
Nesta prisão, cruel e virulenta, estava um garoto franzino, fraco, mentalmente molestado pelos carrascos que impunham a indolência. Estes carrascos eram diversos. Iam desde as novelas aos programas humorísticos sem humor.
O garoto implorava por ajuda. Pensava em alguns possíveis heróis que pudessem salvá-lo. Os livros paradidáticos, por exemplo, eram verdadeiros guerreiros que retiravam, do infernal cubículo gradeado pela ignorância, alguns poucos prisioneiros dispostos a encontrar o caminho da sabedoria.
Ao contrário desses, o garoto encontrava-se indisposto, numa sala em trevas, localizada num corredor sombrio, distante da vida, próxima da morte, da morte intelectual, do abismo da estupidez, do bestial. Precisava não de um herói material, mas de um amigo herói, um ser bravio e inteligente que lhe segurasse a mão e o retirasse daquela cela repleta de coisas perniciosas.
O amigo, então, iniciou movimentos cautos, previamente calculados, com o intuito de garantir o sucesso da operação desprovida de qualquer esforço físico. Passo a passo, ele ia, milagrosamente, provocando uma revolução nas mentes dos carrascos que, paulatinamente, transformavam-se em soldados na luta contra o perverso mandrião.
Em um ano, converteu a peia num local de alicerce embalsamado de ensinamentos úteis à formação e manutenção de uma cultura pautada no saber.
O corredor escuro iluminava-se na medida em que o amigo caminhava. O garoto, ao sentir a proximidade daquele, viu formar-se em seu interior um ambiente bucólico repleto de rosas perfumadas, de policromáticas borboletas e de saborosos livros. Antes, abraçado pela morte intelectual, agora, abraçado pela vida, aguarda, alegremente, ao lado do amigo, pela hora do inevitável embarque à nau que navegará pelo manso mar da eternidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

JAh pensou em lançar um livro de crônicas...contos...?
=p
bj

Bob Ru disse...

Estou distante de realizar algo desse tipo. Quem sabe um dia. A vida é uma caixina de surpresas.

Postar um comentário