Abstrato

on domingo, 31 de janeiro de 2010
Vivemos e sobrevivemos do abstrato que criamos.
Que somos.
No qual estamos inseridos.
No qual buscamos nos inserir.
Ilusões, imaginações, fantasias, criações, paradoxos, visões, perspectivas, decepções, alegrias, frustrações, passado, presente, presentes, futuro, lembranças, idéias, reflexões, poderes, direitos, conceitos, paradigmas, normas, conhecimentos, religiões, sentimentos mil, sonhos, aparências, liberdade, vida, morte, beijos, paixões, amor, amores, família, sociedade, culturas, água, terra, fogo, ar, ciência, tecnologia, globalização, bondade, maldade, e uma infinidade de outros aspectos que movem o mundo...
O homem.
Tudo isso é muito abstrato.
Complexo e simples.
O fato é que a realidade é incompreensivelmente compreendida por todos nós.
Ou será que fingimos compreendê-la?
Aceitamos isso tudo porque o abstrato, de tanto ser difundido como real, torna-se verdade.
O que fazer para entender?
Ninguém sabe.
Ninguém entende.
Mas todo mundo explica.
Poucos perguntam...
Por que nos perguntamos?
Antes de pedir conselhos elabore suas próprias teorias.
A verdade é relativa porque nós sabemos o quanto somos errantes naquilo que afirmamos...
Naquilo que fazemos...
Naquilo que escolhemos...
Na realidade, o que é mesmo a verdade? E a dúvida? E a dívida? E o certo? E o errado? E a realidade?
Quem me garante que um conjunto de normas acordadas por pessoas que eu nem conheço pode ser o melhor para mim? Para nós? Por que não mudar? Por que não inovar as nossas visões de mundo?
A resposta para tal comodismo geral é simples: medo.
O diferente é normalmente intitulado como errado. Como louco.
Temos medo dos preconceitos que temos. Dos nossos julgamentos. E é exatamente por tê-los que temos medo que os outros tenham conosco.
Quem dera eu ser um louco hoje para ser um gênio amanhã.
É engraçado como demoramos a perceber os nossos erros.
O homem adora tentar demonstrar que é o melhor... Para si e para os outros.
Será que ser o melhor é o melhor?
A História explica.
Da imposição, nasceu a propriedade privada. Os direitos. Os deveres. O câmbio. A moeda. A cédula. O valor. A guerra. A paz.
Estamos prestes a transformar o mundo em poeira por dinheiro.
Simplesmente porque a maioria das pessoas acha que o dinheiro tem valor.
Aliás, se poeira valesse alguma coisa, nem isso teríamos mais.
Se difundíssemos a idéia de que o grão de areia tem valor, o chão desapareceria sob nossos pés.
Capitalismo.
Ainda não percebemos que para ter poder, status, admiração e uma série de regalias, estamos nos matando.
Que direito temos de matar os outros para nos sentirmos poderosos?
Para nos sentirmos bem? Melhor, talvez?
O outro.
Mas, às vezes, pensamos mais no outro, ou nos outros, do que em nós mesmos.
Fazemos de tudo para deixarmos o outro feliz.
Mas se analisarmos de maneira mais crítica essa nossa preocupação com o outro, veremos que há um grande toque de egoísmo nela.
Ficamos felizes se conseguimos fazer felizes aquelas pessoas que nos cercam e pelas quais faríamos de tudo para atingir tal objetivo... Faríamos de tudo porque também queremos nos sentir bem, felizes.
Que direito eu tenho de não ficar completamente feliz com a realização de um amigo ou de um parente por pensar nas conseqüências desse fato na minha vida? Que direito eu tenho de pensar em mim quando a felicidade do outro está em jogo? Que direito eu tenho de ser egoísta? Que direito eu tenho de achar que a proximidade será o melhor caminho? Eu tenho algum direito?
Sim, eu tenho. O direito de ser eu. E isso é único e intransferível.
Falamos de tudo. Sempre falaremos.
Desde o menor grão de areia até o planeta mais distante da Terra.
Desde o menor inseto já visto até um extraterrestre que vive em um planeta cujo nome é uma série de algarismos dados pela NASA.
Desde o homem até o homem.
Tudo é assunto.
Mas com certeza, não absoluta, tudo é quase que completamente abstrato.
Inclusive este texto.
O importante é viver uma abstração por dia, mesmo que a vida já seja uma e o dia seja a nossa esperança de que nem tudo é definitivo.

8 comentários:

Sílvia disse...

Belo texto Anderson!
Você tem um olhar crítico muito observador.
Esse blog é seu e de um outro amigo seu? Roberto, num eh isso?
Ele também escreve muito bem.
É a primeira vez que visito o blog de vocês, tava dando uma olhada aqui nos blogs que as pessoas andam fazendo, e o de v6 é uma raridade em termos de conteúdo!!! Muito bom mesmo. Já está salvo aqui como Favorito.
Parabéns!!!

Bob Ru disse...

Não posso me furtar de comentar este texto. Simplesmente show!!

Valeu aí mah!!

Unknown disse...

Gosto da mistura
da prosa com o verso
do compreensível...

Beijo!

Anderson Carlos disse...

Sim, Sílvia. O blog é meu e do meu grande amigo de faculdade e de vida, Roberto. Obrigado pelos elogios.

Valew Roberto e Bruna pelas palavras... o texto deve ter algum diferencial mesmo, pq 3 comentários no dia da postagem... recorde!
hehehehe

Obrigado a todos.

Satiko disse...

É engraçado porque quanto mais parecidas umas das outras,as pessoas se consideram mais felizes,ter um carro parecido com o do fulano famoso(UAU),ter a casa dos sonhos como a da vizinha,vestir os mesmos modelos de roupas que as modelos mais famosas usam..tudo realmente deslumbrante não?!É patético ver o mundo cheio de coisas diferentes,ver os "loucos" e os "anormais" sendo desconsiderados pela sociedade,pelo simples fato de optarem por algo incompreendivel.E por isso,talvez,nós,fanáticos consumistas,nunca conheceremos a real felicidade,longe dos sorrisos amarelados de quem passa o seu cartão de crédito.
Otimo texto,parabéns aos dois me levaram a uma ótima reflexão!

Bjos da GArota.com

Yaser Yusuf disse...

EXELENTE O TEXTO...
MUITO BOM MESMO...
SEGUINDO SEU BLOG

Danilo Marinho disse...

hã?!

Anderson Carlos disse...

Obrigado a todos!!!

Danilo, belo comentário... Abstrato como o texto! kkkkkkkkk

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