Aurora

on sábado, 29 de maio de 2010
Quatro e meia da manhã. Acordo alvoroçado, ainda, sob a escuridão pálida da madrugada silenciosa, aconchegante, chamativa ao sono parcialmente perdido por uma perturbação. Uma crise alérgica iniciou-se em minha região nasal com espirros violentos. Após algum tempo, cerca de cinco a sete minutos, aliviei-me do congestionamento nasal. Debalde tentei dormir, passei a escutar alguns sons que atraíram minha atenção e assassinaram a queima roupa o pouco sono que tentava me dominar.

Erguido, os pés sobre o tapete nu, o piso frio, tentava encontrar minhas chinelas no quarto escuro. Não ligava a luz para não acordar meu irmão. Fiquei a observar o céu, ainda em trevas pela fresta da pequena janela da área de serviços. Depois de alguns minutos, fui escovar meus dentes e, quando fui merendar, o sol, invencível cavaleiro, mais uma vez, derrotara rápido o escuro céu.

A manhã mostrava seu canto por intermédio dos pássaros, seu porta-voz mais intrépido e gentil. Alguns são um pouco mal educados. Vez ou outra eu escuto uma reclamação sobre o pombo irreverente e extrovertido.

As notas, algumas suaves, outras irritantes, soavam como um coro de louvor àquele que nos desperta para mais um dia de labor. Dia no qual uns riem, uns choram, uns vivem, outros, por má sorte ou não, morrem a sonhar com os sonhos não alcançados em vida.

Amizade

on quinta-feira, 27 de maio de 2010
Os amigos não escolhemos,
Amizade não se compra.
Não é feito uma mercadoria qualquer
Que logo vemos num chão de rua,
Mas sim feita de uma substância
De origem desconhecida
Que não se encontra em escuros becos
Ou em solos enlameados;
Nem mesmo em ruelas, onde é vendido
Clandestinos sentimentos.

Essa substância, esse produto misterioso
Com a qual é alicerçada a amizade,
Propicia pilares circundados por algum
Tipo de energia provinda do lugar mais remoto do coração
De cada ser.

O teto da verdadeira amizade é incólume,
Inexorável a qualquer intempérie.
A pior das tempestades é destruída
Pela mão pesada pluma do coração,
Nada, nada, nada
É capaz de abalar a verdadeira amizade
Cuja construção, além de demorada, requer
Ingredientes que não se encontram no mundo exterior
E sim no interior de cada pessoa:
Tempo, convivência, proximidade, brincadeiras,
Alegrias, tristezas, felicidade, confiança, intimidade, enfim,

Amizade.

Lágrimas

on quarta-feira, 26 de maio de 2010
Sob sol quente elas caiam
Incontroláveis sobre um controle vão
Pois não dava para mantê-las, são
Como cristais que ruíam.

Os dois, conectados, sabiam
Das sensações perpassadas. Então
Disseram um ao outro no clarão
A indizível sensação. Concebiam

Aquelas, no reboar dos sons, contidas,
O tempo o qual, depois, voltará a lembrar
Das palavras murmuradas, caídas

No profundo sentimento a celebrar
O fraterno amor da bem vinda... vidas
Cujos momentos quererá bem recobrar.

Sorriso

on segunda-feira, 24 de maio de 2010
Do sorriso, sempre falo bem dele.
Não tenho motivos para mal falar.
Quem não gosta dele?
De soltá-lo,
De recebê-lo,
De vê-lo.

Hoje, olhei para um que tem uma força incrível,
Uma força que prende, que enlaça sem dó.
É uma prisão da qual não sairia.

Jamais.

Ele é rápido contudo.
A sensação transmitida é longa, muito longa.
Ao seu lado está a expressão séria
Que insiste em dominar a outra.

Hoje, elas alternavam-se bastante.
Não havia o devido controle.

O sorriso: a felicidade, o mascarar desta.
Só riso: amargo, estranho, porém sorriso.

Ao sorriso: obrigado.

Você

on sexta-feira, 21 de maio de 2010
Eu vou por um caminho, perdido
A procurar incansavelmente a verdade
Acabei, com tudo, encontrando a saudade
Embebida com o vinho feliz sentido.

Parei, cansado e, finalmente vencido
Com você deparei-me e feito um abade
Recolhi-me num canto que acolhia o alarde
O medo, as angústias, agora, reprimido.

A Coragem bebi, cheguei perto e disse: venha!
Você, com majestoso sorriso, um pouco hesitou.
Os seus passos, leves, curtos, dizia-lhe: me contenha!

Pois bem conhecia a estrada. Você caminhou
A segurar as mãos minhas suadas. Com você tenha
Espero que a felicidade... pelo rumo... em que me vou...

Ele e ela

on domingo, 9 de maio de 2010
Ele se viu num ambiente diferente, apesar do lugar ser o mesmo. Novas pessoas pareciam circundá-lo, apesar de algumas destas também serem as mesmas. Sentia-se, de certa forma, com o desafio de reconquistar as amizades enfraquecidas. Principalmente a dela. Mas será que houve um enfraquecimento na amizade? – perguntava-se.

Seu olhar era esguio. Seu sorriso arqueava-se fraco. Não se aproximava dele como antes. É o que transmitia em suas ações. Afinal, o que ele fez a ela? Nada. Porém, ela, mergulhada em pensamentos e em sentimentos conturbados, dolorosos, levou-se rumo a um imperceptível distanciamento vagaroso. Ele, ainda sem saber o que fazer, sem saber como agir, pensa, pensa muito. Ele sente-se triste por isso. Gostaria de voltar no tempo e poder, com tal capacidade, evitar os erros e as atitudes impensadas.

Entre eles há um grande afeto, há um grande carinho. O que ele sente por ela é algo que vai além da ternura. É uma amizade indelével.

Amizade enfraquecida. Isto não é verdade. O que prova aquela firme é o simples gesto do abraço, carregado de variados sentimentos que fazem o tempo passar mais lento, que fazem ele(s) querer(em) que o tempo não passe. O aconchego do gesto demonstra a enorme quantidade de palavras não ditas, mas sentidas.

Tempo, tempo, tempo. Não importa o quanto avance. Ele e ela estarão próximos e, ao mesmo tempo, quiçá, distantes. Isto ele não quer, não quer. E a amizade os acompanhará como um elo inquebrantável. Assim, ele deseja...

Monólogo

on sexta-feira, 7 de maio de 2010
Quando o olhar já não é somente um olhar.
Quando não estás onde estás.
Quando observar fixamente algo que não é notado por ninguém se torna um suporte para viajar no teu próprio eu, como, por exemplo, ficar a analisar uma formiga que faz o seu percurso de trabalho diário tranquilamente em um canto de parede qualquer.
Quando não escutas mais o que te cerca e a única voz audível e forte é a da tua própria consciência.
Quando a mais simples resposta se torna a mais dolorosa das perguntas.
Quando a certeza existente é mais duvidosa do que as tuas incertezas.
Quando o abismo misterioso está diante de ti e te parece demasiado atraente.
Quando a imaginação de uma possível queda cria situações absurdas.
Quando o pedido para que tudo acabe se torna oração.
Quando o vermelho evidente de sua apresentação se faz presente.
Quando o espelho da alma lança uma chuva salgada e inevitável sobre o solo não tão firme quanto antes.
Quando os devaneios se superam e tu passas a acreditar que toda aquela realidade surreal é apenas um sonho ou um pesadelo que salta aos teus olhos.
Quando acordas.
Ou será que ainda dormes?
Não, não estavas a dormir. Era real. Era tudo conflituosa e inimaginavelmente real.
E se todas as afirmações anteriores forem interrogações?
E se o “se” não fosse apenas um “se” e, assim, pudesses mais do que apenas imaginar?
E se as respostas de todos os teus questionamentos fossem automáticas?
E se não existissem perguntas?
Procure um sentido maior do que apenas um pequeno direcionamento em tuas vivências diárias, aliando de forma construtiva aquilo no qual acreditas e que queres que aconteça.
Tente e me descreva o que acontece.
Não queira que isso aconteça novamente, mas também não queira ficar parado no tempo, pois o tempo não fica parado em você.
Não espere que todos te compreendam e nem que te entendam, pois isso é uma necessidade desnecessariamente importante nos dias de hoje. Nem tu consegues tal proeza.
Normalmente os analisadores não se compreendem.
Noite.
Aquela folha verde que hesitou em balançar à brisa fraca e à neblina calma daquela noite.
A proteção que evitou que, devido às tuas dúvidas, tragédia maior ocorresse, sentiu vontade de apanhar-te no colo e consolar-te.
Ao procurar uma estrela simpática no céu, deparou-te com nuvens compactas e escuras a esconder-te o amparo do milagroso brilho estrelar.
Tudo. Nada.
Ali. Frente a frente.
E tu estavas parado entre tais antônimos como alguém que é solto em meio ao deserto e não sabe qual direção tomar na esperança de encontrar um oásis salvador.
Não te enganes.
Há turbulências que não podemos esperar passar. Resolva-as. Mas não as tome para si.
Terás sempre a ajuda daqueles que não são apenas ouvintes, mas amigos. Eles são inconfundíveis. Basta observar.
Tu. Eu mesmo.