Monólogo

on sexta-feira, 7 de maio de 2010
Quando o olhar já não é somente um olhar.
Quando não estás onde estás.
Quando observar fixamente algo que não é notado por ninguém se torna um suporte para viajar no teu próprio eu, como, por exemplo, ficar a analisar uma formiga que faz o seu percurso de trabalho diário tranquilamente em um canto de parede qualquer.
Quando não escutas mais o que te cerca e a única voz audível e forte é a da tua própria consciência.
Quando a mais simples resposta se torna a mais dolorosa das perguntas.
Quando a certeza existente é mais duvidosa do que as tuas incertezas.
Quando o abismo misterioso está diante de ti e te parece demasiado atraente.
Quando a imaginação de uma possível queda cria situações absurdas.
Quando o pedido para que tudo acabe se torna oração.
Quando o vermelho evidente de sua apresentação se faz presente.
Quando o espelho da alma lança uma chuva salgada e inevitável sobre o solo não tão firme quanto antes.
Quando os devaneios se superam e tu passas a acreditar que toda aquela realidade surreal é apenas um sonho ou um pesadelo que salta aos teus olhos.
Quando acordas.
Ou será que ainda dormes?
Não, não estavas a dormir. Era real. Era tudo conflituosa e inimaginavelmente real.
E se todas as afirmações anteriores forem interrogações?
E se o “se” não fosse apenas um “se” e, assim, pudesses mais do que apenas imaginar?
E se as respostas de todos os teus questionamentos fossem automáticas?
E se não existissem perguntas?
Procure um sentido maior do que apenas um pequeno direcionamento em tuas vivências diárias, aliando de forma construtiva aquilo no qual acreditas e que queres que aconteça.
Tente e me descreva o que acontece.
Não queira que isso aconteça novamente, mas também não queira ficar parado no tempo, pois o tempo não fica parado em você.
Não espere que todos te compreendam e nem que te entendam, pois isso é uma necessidade desnecessariamente importante nos dias de hoje. Nem tu consegues tal proeza.
Normalmente os analisadores não se compreendem.
Noite.
Aquela folha verde que hesitou em balançar à brisa fraca e à neblina calma daquela noite.
A proteção que evitou que, devido às tuas dúvidas, tragédia maior ocorresse, sentiu vontade de apanhar-te no colo e consolar-te.
Ao procurar uma estrela simpática no céu, deparou-te com nuvens compactas e escuras a esconder-te o amparo do milagroso brilho estrelar.
Tudo. Nada.
Ali. Frente a frente.
E tu estavas parado entre tais antônimos como alguém que é solto em meio ao deserto e não sabe qual direção tomar na esperança de encontrar um oásis salvador.
Não te enganes.
Há turbulências que não podemos esperar passar. Resolva-as. Mas não as tome para si.
Terás sempre a ajuda daqueles que não são apenas ouvintes, mas amigos. Eles são inconfundíveis. Basta observar.
Tu. Eu mesmo.

4 comentários:

Bob Ru disse...

O monólogo nos faz entrar em diversos estados, dependendo do caminho que seguiremos no só devaneio. Este, alternando entre a alegria e a tristeza, entre o "Tudo. Nada", leva-nos a perguntas cujas respostas não são verdadeiramente verdade e não são verdadeiramente mentira. Simplesmente não há respostas. O que há são ideias de respostas...

Enfim... agora vou-me embora monologar.

Monólogo: Parabéns!

Anônimo disse...

Muito bom!
Li o texto inteiro pensando que vc tava escrevendo para alguém, mas qdo vi o final "Tu. Eu mesmo." entendi o título "Monólogo".
Complexo e poético, na minha opinião.
Um abraço.

Ju disse...

Hummmmmm... Que bela descoberta saber que você de dá bem com as palavras! Maravilhooooooso! :)

Sílvia disse...

Pelo que pude observar, há muito você não postava, neh Anderson?! Mas quando resolveu escrever...
Lindo texto! Que simplicidade e exatidão nas palavras que prendem nossos olhos na tela do pc até que o ponto final apareça.

Minha predileta: "Aquela folha verde que hesitou em balançar à brisa fraca e à neblina calma daquela noite."
Senti-me lá...

Parabéns!

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