Imperfeição Perfeita

on quinta-feira, 4 de março de 2010
Perfeição.
Qual seria o conceito mais adequado para essa palavra?
Existiria uma definição perfeita?
Dizemos que é perfeito aquilo ou aquele que reúne em si todas as qualidades possíveis.
Alguém seria capaz de apontar um defeito da perfeição?
William Maugham disse que um grave defeito da perfeição é a sua tendência em ser enfadonha.
Como viver com alguém perfeito?
Que não tem nada de errado?
Que não tem defeito físico ou psicológico?
Que nunca fez nada errado?
Não viveríamos.
Seria insuportável a convivência.
Seria impossível.
Não seria vida.
Seria tortura.
Teríamos vergonha de contar nossos erros, nossos conflitos, nossas lutas, nossas besteiras, nossos tropeços, nossas raivas e tudo o mais que nos aflige para alguém que não passa por nada disso...
Teríamos medo dessa pessoa...
Não agiríamos naturalmente na sua presença.
Simplesmente porque teríamos medo de errar diante dela.
Seria motivo suficiente para nos deixar mais do que apreensivos.
Viveríamos em uma constante pressão psicológica individual. Um conflito existencial.
Fatalmente sentiríamos inveja.
Lástima. Preconceito. Raiva. Culpa. Dor. Sofrimento.
Somos imperfeitos.
E, assim, a coexistência se tornaria insustentável.
Como ela nos entenderia já que nunca teria errado...?
Entenderia sim.
Mesmo sabendo que nunca errou e que nunca errará, entenderia o nosso comportamento deplorável.
Afinal, seria perfeita.
Contradição.
Ela não seria humana.
Um andróide, talvez. Um extraterrestre. Um ser criado por nós mesmos...
Imaginário...
Fictício...
Irreal.
Sim, a perfeição é só uma criação humana.
O ser humano, para ser humano, tem que errar...
Errar e errar muito.
Perfeito é ser imperfeito.
O verdadeiro aprendizado advém dos erros que cometemos.
De fato.
Quem, em um belo dia, desceu sozinho do berço e aprendeu a andar na primeira tentativa? Sem ninguém por perto para ajudar a equilibrar o peso do pequeno corpo nas pernas ainda titubeantes?
Quem vê uma bicicleta parada, acha legal aquele simples e intrigante objeto, nunca antes visto, sobe e sai passeando pela cidade como se essa habilidade viesse adquirida desde o nascimento? Sem rodinhas para compensar?
Quem, no primeiro ano de idade, já sabe pronunciar, soletrar e interpretar de maneira brilhante todas as palavras e textos da língua portuguesa?
Quem sabe resolver, sem a ajuda de ninguém, todos os problemas matemáticos relacionados, por exemplo, ao Binômio de Newton sem nunca ter estudado tal assunto antes?
Quem, a partir do primeiro beijo, já é capaz de analisar e interpretar de maneira espetacular a complexidade de um relacionamento? De um casamento?
Quem, na primeira paixão de adolescente, pode dizer as mais insanas peripécias do amor?
A vida é um constante aprendizado.
Erramos para aprender.
Logo, erramos todos os dias constantemente, pois aprendemos diariamente.
Não que o aprendizado seja dependente apenas dos nossos erros... Aprendemos a aprender com a experiência dos outros também.
Entretanto, há quem prefira as suas próprias lições.
Nada é tão consolador na vida como saber que não somos os únicos errantes nesta terra de ninguém.
E isso nos faz prosseguir.
Levantar após as quedas.
Não somos os únicos, levantemos.
Viver assim, em um mundo imperfeito e entre imperfeitos, é perfeito...
Vivemos na perspectiva do acerto, mas temos o direito de errar.
Julgamo-nos incessantemente por nossos atos, pensamentos, comportamentos, desafios... Mas não podemos ser nossos próprios carrascos.
Devemos ser menos cruéis conosco.
Mesmo que a sociedade ou quem quer que seja, coloque sobre nossos ombros o peso de nossas próprias conquistas, temos sim a prerrogativa de poder não acertar sempre.
Expectativas.
Tentamos correspondê-las ou superá-las, porém nem sempre poderemos atingi-las.
Mas, lutemos.
Porque podemos nos esconder dos outros, todavia, nossa consciência estará sempre presente e dela não escaparemos nunca.
Eis a dinâmica da vida.
O mistério. A surpresa. A aspiração. O desejo. A curiosidade. A diferença.
O mundo não teria o menor sentido se nós já soubéssemos de tudo.
Se já fossemos tudo.
Perfeitos.
Não haveria vida.
Somente tédio.
Seria uma triste e melancólica contagem regressiva para a morte.
Não teríamos nada para fazer, pois já teríamos feito.
Nada para discutir. Nada para pensar. Nada para falar. Nada para criar. Nada para nada.
Porque já teríamos feito tudo.
Seríamos iguais. Completamente.
Afinal, seríamos perfeitos e não tem como ser perfeito sendo diferente... Seria contraditório.
A perfeição humana, na forma como é conhecida, é apenas um conceito.
Ainda bem. E que continue assim.
Na realidade, somos perfeitos.
Contudo, não dessa forma vaga e teórica, mas sim, da forma mais bela e viva possível: diferentes.
Somos perfeitos porque somos imperfeitos.
Sejamos felizes nesta vida perfeitamente imperfeita e que, por isso, é encantadora e fascinante.
Façamos felizes aqueles que nos cercam... Imperfeitos como nós.
E sejamos felizes com eles.
Façamos a diferença.

8 comentários:

Sílvia disse...

...
Sem palavras!
Só posso apreciar!
Lindo texto!
Lindoooo...

PERFEITO!
*_____*

Parabéns. Parabéns mesmo!!!

Anônimo disse...

Que dizer de uma obra como essa?
O comentário acima resume tudo:

PERFEITO! [2]

O texto é um misto de realidade e otimismo fantástico!!

Bela mensagem.

Parabéns!!! (Salvo Favoritos!)

William disse...

Anderson meu amigo!!!
O grande gênio daquela pobre escola pública do Jockey Club... hehehehe

eu sempre soube q vc faria esse título perdurar...

Que bom que somos imperfeitos, a vida soh eh bela pq erramos e acertamos! Texto simplesmente:

PERFEITO! [3]

Um abraço. Saudades.

Kaio S. disse...

A primeira linha do texto o resume numa palavra...

PERFEITO [4]

Tou vendo que estão gostando do que tu anda escrevendo em meu amigo?! E quem ousaria de não gostar?
Alguém seria capaz de apontar um defeito do seu texto?
Não, ele não tende a ser enfadonho... ao contrário da perfeição.
Sim, façamos a diferença. Sigamos o teu exemplo!

Um abraço, Anderson!

PS: Vamu tentar reunir a galera do colégio de novo! Povo desunido!

Bob Ru disse...

Considerando a questão: perfeito é ser imperfeito, digo que seu texto, contrariando a contagem dos perfeitos nos comentários anteriores, está demasiado IMPERFEITO!

O mundo, pelo estado em que se encontra, é prova das nossas ações em busca do desenvolvimento, do crescimento... da perfeição? Tem pessoas que a buscam sem saber que elas próprias são imperfeitas. Neste caso, posso dizer que os opostos não se atraem. O imperfeito atrair o perfeito? Não, não atrai. O que ocorre é, simplesmente, um magnetismo inevitável entre as imperfeições e a minimização imperceptível destas. A Perfeição, coitada, vive na sua base teórica achando-se perfeita e a melhor. Pensa que manda em alguma coisa. Mal sabe ela que a Imperfeição é quem verdadeiramente age sobre nós desde o instante que saímos, normalmente chorosos, do aconchego interno maternal para o desconforto do seu exterior vacilante.

É isso aí cara!

Unknown disse...

"Mesmo que a sociedade ou quem quer que seja, coloque sobre nossos ombros o peso de nossas próprias conquistas, temos sim a prerrogativa de poder não acertar sempre."
Cara, achei genial essa parte!! eh mta cobrança em cima da gente mesmo, 24hs por dia. tah 10 parceiro... muito bom mesmo. se garantiu brother!
Parabéns brow!

Unknown disse...

"Imperfeição perfeita"!
Concordo plenamente!
Adotei essa idéia quando percebi que as imperfeições humanas já me proporcionaram momentos maravilhosos!

Sim...a imperfeição é a graça da vida!

Beeijo!

Kaah tiani disse...

Adorei, Carlos!
Eita inspiração!!

Parte preferida:
Na realidade, somos perfeitos.
Contudo, não dessa forma vaga e teórica, mas sim, da forma mais bela e viva possível: diferentes.
Somos perfeitos porque somos imperfeitos.
Sejamos felizes nesta vida perfeitamente imperfeita e que, por isso, é encantadora e fascinante.
Façamos felizes aqueles que nos cercam... Imperfeitos como nós.
E sejamos felizes com eles.
Façamos a diferença.(genial!)


"A perfeição é algo desumano porque o humano é imperfeito" Fernando Pessoa

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