Algumas Palavras Sob Solidão

on domingo, 17 de janeiro de 2010
Solidão...
A nossa melhor amiga em muitos momentos desta constante labuta.
Porém, nem sempre.
Depende do motivo que nos fez e nos faz encontrá-la.
Ou ela nos encontrar.

Solidão...
Visita-nos sem, ao menos, ser convidada.
Abraça-nos mesmo quando a rejeitamos com todas as nossas forças.
Insiste em ficar ao nosso lado, mesmo quando tentamos não deixar lugar algum.
Mesmo quando fugimos dela.
Corremos.
Não percebemos a contradição na qual nos colocamos.
Ao fugir dessa renegada companhia, estamos buscando um lugar no qual possamos ficar sós.
Ou seja...
Existirá o lugar no qual possamos ficar livres até mesmo da própria solidão?
Tão sozinhos que nem mesmo a progenitora dessa situação possa estar presente?
Estamos realmente sós quando temos a solidão como companhia?
Poderia escrever páginas e mais páginas de especulações como essas que tumultuam minha mente.

Solidão...
Muitos a odeiam.
Traçam estratégias, elaboram planos, organizam-se a semana inteira e, até mesmo, o mês inteiro para não tê-la ao seu lado em um determinado dia, hora, local.
Como ela deve se sentir ao ver alguém delineando algo contra ela mesma?
Chateada? Entristecida? “Sem vontade de cantar uma bela canção?”
Não. Por passarmos tanto tempo ao seu lado arquitetando nossas façanhas, ela pensa: - Pode ir, mas cuidado! Estarei aqui te esperando... Ou onde você estiver comigo. Sozinho.

Solidão...
Paradoxalmente, por mais que a odiemos, gostamos dela.
Ela nos ouve... Muito. Demasiadamente.
E o que é melhor, apenas nos ouve quando queremos somente falar.
Não dá maus conselhos.
Apenas ouve... E essa é uma virtude ainda ausente na maioria das pessoas: saber ouvir.
E isso é o que ela faz. Abraça todos os teus conflitos.
E você, como que de uma maneira relativamente mágica, sente-se mais aliviado.
Muitas vezes até, preferimos sua companhia a de certas pessoas.

Solidão...
Falamos, falamos, falamos.
Dela e para ela.
Mas, nunca ouvimos.
Nada.
Entretanto, tamanha passividade nem sempre é de bom tom.
Nem sempre podemos unicamente falar. Temos que ouvir também.
Alguém deve nos contestar um dia. A imaginação de que estamos sempre certos não é bom.
O certo é que nunca estamos completamente certos... No dia que tivermos tal certeza sobre nossa certeza, já estaremos errados em tê-la.
Então refletimos, discutimos, concordamos, discordamos.
Não é legal quando, sozinhos, ouvimos que estamos errados.
É chato isso. Sempre é.
Mais chato ainda é quando descobrimos que estamos em conflito com nós mesmos.
E que não foi a tão terrível solidão quem nos julgou culpados, mas nossa própria consciência.

Solidão...
Quantas vezes molhamos seus ombros com lágrimas...?
Incontáveis.
Quantas vezes enchemos sua paciência com nossos sorrisos?
Boa pergunta... Houve isso? Se sim, cabe nos dedos das mãos.
Quantas vezes o silêncio consumiu nosso ambiente...
Quantas vezes faltaram assuntos para desenvolver uma boa conversa...
Esperando ter algo para falar.
Ou apenas sentamos ao seu lado. Esperando que nenhum assunto desagradável surja meio que de repente.
O fato é que, quando rezamos para não nos lembrarmos das más recordações, sempre nos lembramos delas.

Solidão...
Normalmente confundida com a nossa própria consciência.
Várias vezes.
“É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”...
Colocar a culpa de nossos tristes conflitos na solidão é a maneira mais fácil de nos livrarmos deles.

Solidão...
Ouvir música, sempre ajuda.
Cantar, também.
Tentar tocar alguma canção predileta no violão... Minha melhor terapia.
Ela é a minha platéia.
Não ouço palmas. Mas ainda não fui vaiado.
O importante é que, para mim, estou indo bem.
E isso me faz prosseguir.
Costumamos associá-la a “tristeza”... Por que não podemos estar felizes sozinhos?
Vamos mudar esses paradigmas.

Solidão...
Algumas pessoas gostam de escrever algo sobre ela.
Eu, por exemplo.
Achei que, alguém tão presente e, ao mesmo tempo, tão ausente, não deveria passar despercebida.
Vou convidá-la a estudar comigo.
Todas as noites.
Assim eu aprendo e talvez até esqueça que ela existe por alguns instantes.
Espero que ela não esteja lendo isso...

Solidão...
É bom escrever sobre ti.
Contigo.
Sem mais delongas, encerro essas poucas palavras.
Ou seriam muitas? Acho que me estendi.
Preferiria não ter tanto a falar.
Mas já que tenho, no papel estão.
Vou traçar meus planos, para ser menos “tagarela”.

1 comentários:

Anônimo disse...

"Achei que, alguém tão presente e, ao mesmo tempo, tão ausente, não deveria passar despercebida."

Que lindo o seu texto. Eu tbm adoro esta acompanhada da solidão. O negócio é que estar sozinho não é coisa pra toda hora. Mas antes de dormir, sentir a solidão é a melhor forma de pensar. De organizar idéias, de se sentir melhor com você mesmo. Adorei o texto, parabéns !

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