Tempestade I

on sexta-feira, 20 de agosto de 2010
A chuva caía fina. O céu estava coberto por densas nuvens negras. A rua encontrava-se um pouco solitária, praticamente deserta. Poucas pessoas a caminhar, algumas com, outras sem uma sombrinha ou uma capa que as protegessem das gotas que mais pareciam agulhas frágeis e sem força.

Ele estava sentado numa calçada. Observava os passantes, a negritude, as sombras e o feixe de luz gritando desesperado e com medo. O cenário desnudava-se, exibindo impudicamente a passagem pela qual viria a caminhar imponente e irreverente ela: a Tempestade.

O rapaz fazia parte do grupo de indivíduos sem proteção. Porém, diferente dos demais ao seu redor, apresentava-se maltrapilho e só. Só? – pensou. Enquanto refletia sobre isto, seus olhos iam perdendo a pouca vivacidade que tinham, suas mãos, sujas, não tinham coragem de tocá-lo e de encará-lo, seus pés, descalços, choravam ao escutar o reboar frio dos passos tristes e pesados dos transeuntes e seu coração temia ser atingido pela frígida sensação da morte, da morte social.

As pessoas, ao se aproximarem dele, direcionavam em sua direção o olhar, o qual logo rumava noutra direção. Ele, para aquelas, parecia ser o nada, para onde em um nado desenfreado elas descobririam apenas o desespero de uma realidade da qual não fazem parte, mesmo cruzando-a diariamente.

Não se entristecia com isso. A vida que levava calejou seu coração, cujas emoções, não todas, outrora espontâneas, foram perdidas. Sua visão, cansada, via simplesmente e sem muito esforço apenas o preto e o branco. O seu Dia possuía vestimentas de cores desobedientes, pálidas. Constantemente pensava, pensava na vereda a ser trilhada após levantar-se, após dizer à Inércia suas inquietações, após ver uma luz mais serena, mais calma, a iluminar timidamente, sem muita energia algo que parecia ser a saída...

1 comentários:

Deysilanne Sousa disse...

"Ele, para aquelas, parecia ser o nada, para onde em um nado desenfreado elas descobririam apenas o desespero de uma realidade da qual não fazem parte, mesmo cruzando-a diariamente."
Para mim, o melhor do texto e a pior da nossa realidade diária.
;***

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